sábado, 10 de setembro de 2016

Sobre mim e as palavras

Creio que fui uma criança atípica. Não que eu não escapasse para a casa do vizinho para brincar, ou que meus pais não tivessem que me "forçar" a fazer as lições de casa. Fiz muita birra quando pequena, já fui muito egocêntrica e tudo o mais que se pode esperar de uma criança. Porém, desde a época em que fui alfabetizada, meu hobby favorito era ler. Tenho várias memórias agradáveis da minha infância e do meu relacionamento com os livros.

A mais antiga delas é de quando estava no primário... No fundo da sala de aula, tínhamos uma pequena "biblioteca". A minha maior diversão era terminar logo as lições dadas pela professora para poder ler. Poderia assim, invocar eternamente memórias dessa minha relação com as palavras, porém creio que seja melhor apenas resumir que desde pequena sou apaixonada por livros e bibliotecas.

Frequentei assiduamente todas as bibliotecas das instituições que estudei - além de uma pública, no período entre o ensino médio e o superior, numa "lacuna" dos meus estudos chamada cursinho. Tenho tanto a agradecer por elas existirem! Duvido que seria a leitora que sou hoje se não fosse por poder frequentar esses espaços. Tanto pela variedade de livros que me foi oferecido, quanto pela qualidade das obras dos acervos. Foi lá pelos meus 10 anos que tive meu primeiro contato com Machado de Assis e outros deuses da literatura brasileira. Também tenho que dizer que tive sorte por sempre ser incentivada pelos meus pais a ler: sempre houve livros na minha casa e sempre vi os adultos lendo.

Além de ler, sempre gostei de escrever. Escrevi muita poesia quando era mais nova, tive vários blogs, participei de concursos, colaborei em alguns sites e até tive poemas publicados no jornal da cidade. Escrever foi a forma que encontrei para lidar com os meus sentimentos, de organizar minhas idéias,  e de montar o meu mundo. 

Uma vez, indo atrás de livros para o meu trabalho de conclusão de curso, encontrei algo que talvez explique essa minha necessidade de escrever e de ler:

"Talvez os homens não sejamos outra coisa que um modo particular de contarmos o que somos. E, para isso, para contarmos o que somos, talvez não tenhamos outra possibilidade senão percorremos de novo as ruínas de nossa biblioteca, para tentar aí recolher as palavras que falem para nós."

(LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana - danças, piruetas e mascaradas)

É através das histórias recebidas anteriormente, com os livros que já lemos, que nós, seres humanos, tentamos dar sentido a essa inquietude, essa nossa aparente ausência de destino que é a vida, construindo assim, uma narrativa - uma história que conte a nossa existência. Assim, creio que é necessário que eu continue lendo, e é necessário que eu escreva, para que assim, eu encontre as palavras que me definem. 

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